Artigo. Obesidade atrapalha a libido?

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Estudo com 3,5 mil homens revela que obesidade supera idade como causa de queda hormonal; 90% dos casos de baixa testosterona estão ligados ao excesso de peso.

Dos casos de queda de libido, 10% têm origem hormonal e estão associados à deficiência de testosterona causada pelo excesso de peso. Entre esses casos hormonais, 90% estão diretamente ligados à obesidade. O dado foi apresentado em 2022, durante o XXII Congresso de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, realizado em Salvador.

O índice reforça um cenário preocupante: o Sistema de Vigilância de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) do Ministério da Saúde registrou em 2023 que 24,3% dos adultos brasileiros são obesos. Entre homens de 45 a 54 anos, a proporção sobe para 32,6%. De 2006 a 2023, a obesidade cresceu 105,9% no país, saltando de 11,8% para 24,3% da população adulta.

Perda de peso normaliza níveis hormonais e recupera função sexual

A perda de peso através de alimentação balanceada e atividade física regular pode normalizar os níveis hormonais e melhorar a função sexual. Alguns pacientes recorrem a suplementos como a maca peruana para complementar estratégias de estímulo à libido, embora seja fundamental o acompanhamento profissional para avaliar sua adequação ao quadro individual.

Segundo especialistas, o tratamento precisa ser multidisciplinar, abordando simultaneamente os aspectos hormonais, vasculares, psicológicos e físicos. A perda de peso tende a aumentar a autoestima e a confiança, fatores que contribuem diretamente para a melhora da vida sexual. Extratos como Morosil têm sido estudados como auxiliares na modulação do tecido adiposo, particularmente na região abdominal, área de maior preocupação metabólica.

Cuidados com a reposição hormonal

A reposição de testosterona deve ser amplamente avaliada para que se tenha resultados adequados, sem importantes efeitos colaterais para o paciente. A substância só deve ser prescrita quando as estratégias de redução de peso e exercícios físicos não apresentarem o resultado esperado.

O urologista Gabriel Atta, participante do evento em Salvador, alertou sobre os riscos de indicar reposição hormonal sem adequada avaliação. Segundo o médico, existe toda uma equipe multidisciplinar que precisa ser consultada, como o cardiologista e o terapeuta sexual. “Anabolizantes são medicamentos que foram feitos para serem medicamentos e os médicos precisam retomar o controle dessa substância”, afirmou.

30% dos obesos não têm vida sexual ativa, contra 18% da média nacional

Pesquisa da Fiocruz-PE analisou a qualidade de vida sexual de homens obesos mórbidos. O estudo mostrou que 6,8% dos entrevistados com disfunção erétil referiam ser obesos, contra apenas 3,3% sem disfunção erétil. Dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-RCP/AM) indicam que 30% das pessoas obesas afirmam não ter uma vida sexual ativa, em comparação com 18% da média nacional.

Outro levantamento, da Sociedade Brasileira de Urologia envolvendo 5 mil homens, mostrou que 51% dos brasileiros estão acima ou muito acima do peso e 37% deles admitem uso de remédio para ereção.

Desconforto com corpo afeta autoestima e relacionamento do casal

A queda de testosterona gera sintomas sexuais específicos. O indivíduo pode apresentar falta de ereção ou ereção que não se sustenta. Outro sintoma é a ereção que não atinge rigidez suficiente para o ato sexual. A redução do desejo e da iniciativa para ter relações também marca o quadro de hipogonadismo hipogonadotrófico.

O desconforto com o próprio corpo afeta diretamente o relacionamento. A questão estética ou a vida sexual abalada influenciam a dinâmica do casal. O paciente tende a negar o interesse pela vida sexual ou a negá-la dentro do relacionamento para evitar contato com esse tipo de problema.

A mobilidade fica prejudicada devido ao sobrepeso e ao acúmulo de gordura. Durante a relação sexual, há gasto energético e demanda cardiovascular muito maior. Isso pode resultar em sudorese intensa e transpiração excessiva, comprometendo a sexualidade do paciente em relação ao parceiro ou parceira.

Como a obesidade afeta os hormônios

Nas células de gordura, a enzima aromatase converte testosterona em estradiol, o hormônio feminino. Quanto maior o acúmulo de tecido adiposo, mais intensa a conversão. O excesso de estradiol interfere no hipotálamo e na hipófise, estruturas cerebrais que regulam a produção hormonal. O resultado é a diminuição das gonadotrofinas e, consequentemente, dos níveis de testosterona. Esse descontrole hormonal se torna mais acentuado a partir dos 45 anos.

Um estudo da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, reuniu 3,5 mil homens entre 45 e 64 anos. O urologista José Bessa Junior, coordenador da pesquisa, explicou à CNN que “historicamente, se atribui a queda da testosterona ao envelhecimento. Como mensagem importante do nosso estudo, nós não podemos demonstrar essa diferença, a idade dos homens com e sem deficiência de testosterona foi a mesma.”

A obesidade apareceu como fator determinante em qualquer faixa etária. Homens obesos com cintura abdominal maior que 110 cm têm cinco vezes mais chance de apresentar deficiência hormonal em comparação aos magros, segundo Bessa Junior. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) informa que cerca de 30% dos pacientes diabéticos e 25% dos obesos apresentam testosterona baixa.

Síndrome metabólica obstrui vasos e compromete circulação peniana

A obesidade frequentemente vem acompanhada da síndrome metabólica, que inclui hipertensão, diabetes e dislipidemia. Essas condições favorecem o acúmulo de placas de gordura nas artérias. Os vasos sanguíneos menores são os primeiros afetados, caso dos presentes nos corpos cavernosos do pênis, responsáveis por aumentar o fluxo sanguíneo e propiciar a ereção.

O corpo do paciente obeso opera em estado de inflamação crônica e estresse oxidativo. Esse processo libera radicais livres que inibem a produção e liberação do óxido nítrico, principal vasodilatador relacionado à função erétil. Sem quantidade adequada dessa substância, a capacidade de obter e manter ereções fica comprometida.