Gestão financeira: sem planejamento empresa pode fechar no primeiro ano de vida

Pesquisa do IBGE revela que uma em cada quatro empresas brasileiras encerra atividades no primeiro ano; Especialistas apontam falta de controle de caixa como principal causa.
Uma em cada quatro empresas brasileiras não consegue ultrapassar o primeiro ano de funcionamento, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O cenário se agrava quando o prazo se estende: dados da mesma instituição revelam que 60% dos negócios encerram as atividades antes de completarem cinco anos de existência.
A principal causa está relacionada à deficiência no controle financeiro. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 48% das micro e pequenas empresas fecham as portas por problemas vinculados à falta de planejamento financeiro e descontrole de caixa. “Quase metade dos pequenos negócios não sobrevive por falta de atenção à saúde financeira da empresa”, alerta o CEO do grupo Direto Group, Silvinei Toffanin, em entrevista.
A questão se torna ainda mais crítica nos primeiros meses de operação, quando muitos empreendedores subestimam a importância de estruturar adequadamente o setor financeiro. A conta PJ com cartão deve ser monitorada de perto para não haver tomada de crédito que possa comprometer as finanças a médio prazo. Para especialistas da área, estabelecer práticas sólidas de gestão desde o início representa a diferença entre a sobrevivência e o fracasso empresarial.
Reserva financeira e separação de contas são fundamentais
Antes mesmo de iniciar as operações, os empresários precisam constituir uma reserva equivalente ao capital de giro. O contador e vice-presidente da Serac, Jhonny Martins, orienta que essa poupança deve cobrir entre 6 a 12 meses de custos fixos.
Outro aspecto importante envolve a separação entre finanças pessoais e empresariais. A gerente financeira da Corning, Tatiane dos Santos, destaca que a prática básica ainda é negligenciada por muitos gestores. “Parece básico, mas ainda vemos muitas empresas misturando contas, sem saber exatamente quanto custa operar ou qual margem real de lucro têm”, observa em entrevista à imprensa. A mistura de despesas compromete a análise da real situação financeira do negócio, como observa Martins.
Precificação científica e indicadores estratégicos
A chamada “precificação científica” é obtida por meio de uma análise consistente de todos os custos, incluindo logística e taxas de cartão, para garantir margem de lucro adequada. O melhor programa de pontos para um cartão empresarial depende do perfil de gastos e das preferências da empresa.
O consultor financeiro empresarial, Weslei Gomes, aponta como indicador técnico relevante a relação entre dívida e EBITDA – que é o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, usado para medir a performance operacional de uma empresa. “Quando essa relação cresce, significa que a empresa pode estar se endividando mais rápido do que consegue gerar no caixa”, explica em entrevista. O consultor também alerta para a redução contínua da margem bruta, que representa o ganho após custos diretos de produção.
Controle rigoroso do fluxo de caixa evita surpresas
Gomes ainda explica que muitos empreendedores têm o valor mínimo que precisam faturar para cobrir os custos. Sem essa informação, segundo ele, “a empresa opera no escuro”.
Já o coordenador de Acesso a Crédito e Investimentos do Sebrae Nacional, Giovanni Beviláqua, reforça que saber quanto vai receber e quanto vai pagar é fundamental para a sobrevivência da empresa. O especialista recomenda registros diários em planilhas ou softwares específicos.
Planejamento integrado e visão estratégica
A professora da Fundação Dom Cabral, Elisângela Furtado identifica que a ausência de separação entre gastos pessoais e empresariais representa apenas uma das facetas do problema. Em entrevista à imprensa, ela também critica a ênfase exclusiva no curto prazo entre empresas de pequeno e médio porte.
Para Santos, o setor financeiro não pode ser visto apenas como operacional, devendo estar integrado ao planejamento e às decisões estratégicas da empresa. Como conclui Beviláqua, as empresas com mais planejamento e gestão sobrevivem mais tempo no mercado.