Fisioterapeuta de Porto Ferreira participa de estudo que desenvolveu ventilador pulmonar da USP
O Jornal do Porto entrevistou o fisioterapeuta ferreirense Dr. Alcino Costa Leme, que atua no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, e participou do estudo para desenvolvimento de um ventilador pulmonar, aparelho essencial no tratamento de muitos doentes graves de Covid-19, desenvolvido por engenheiros da Universidade de São Paulo.
A notícia foi divulgada pelo site da Folha de S. Paulo na segunda-feira (20), assinada pelo repórter Vinicius Torres Freire. Segundo os coordenadores do projeto do ventilador Inspire, nesta semana seria solicitada à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a autorização para produzir o aparelho. O equipamento pode entrar na linha de produção em cerca de dez dias. Existem empresas prontas para começar a fabricá-lo.
Em uma semana, podem ser produzidos 500 ventiladores. Dadas as expectativas realistas de conseguir importar alguns componentes, “elementos críticos”, seria possível produzir 5 mil equipamentos em um mês, para começar, diz Raul Lima, especializado em engenharia biomédica, um dos coordenadores do projeto, com Marcelo Zuffo, ambos professores da Escola Politécnica da USP.
O ventilador sustenta a respiração dos doentes críticos de Covid-19, com pulmões devastados pela doença. Sem o aparelho, um paciente crítico, em tratamento intensivo, perde a vida. A escassez do equipamento ficou notória quando houve grande aumento de casos da doença na Itália, por exemplo.
O governo federal do Brasil tem tido problemas para importar os aparelhos; a falta de componentes importados para ventiladores comerciais dificulta o aumento da produção nacional.
O equipamento criado e testado na USP é emergencial. Foi desenvolvido para suprir a falta de ventiladores comerciais na crise de saúde provocada pela epidemia. Nos testes com pacientes, seu desempenho (capacidade de trocar dióxido de carbono por oxigênio) foi comparado com sucesso ao de um ventilador comercial e de uso padrão nos hospitais.
Não houve problemas, “intercorrências”, com os pacientes, nos estudos conduzidos por José Otavio Auler Junior, com auxílio de Filomena Galas, professores da Medicina da USP, e do fisioterapeuta Alcino Costa Leme, no Incor.
Ventilação mecânica – Em entrevista ao Jornal do Porto, Alcino explicou um pouco mais sobre o aparelho e o que é a ventilação mecânica. “A ventilação mecânica é considerada elemento básico de suporte de vida nas unidades de terapia intensiva e, indubitavelmente, essencial para os pacientes com lesão pulmonar aguda (LPA) e síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). Porém, a ventilação mecânica mal conduzida, com altos volumes e altas pressões de distensão pulmonar, provocam ou agravam ainda mais a lesão pulmonar existente e aumentam a mortalidade”, comentou.
“Sendo assim, não adianta ter um ventilador e não ter operador qualificado para conduzir a máquina, 24 horas por dia, que no caso é feito por médicos e fisioterapeutas, sem falar de enfermeiros e técnicos”, continuou.
Os preços de um ventilador de última geração no Brasil sai em torno de R$ 150 mil a R$ 200 mil. Sem falar nos altos custos de ter uma rede de oxigênio e ar comprimido. “Os aparelhos vêm de fora, Alemanha, EUA, Suíça. A indústria nacional não consegue concorrer com eles. É muita tecnologia envolvida e milhões de dólares investidos em pesquisa e desenvolvimento de produto”, disse Alcino.
No estudo do Incor e da USP, ele detalhou que foi responsável para saber se seria seguro e capaz de o aparelho desenvolvido ventilar um ser humano. Disse que colocou o aparelho para funcionar em um paciente e a equipe ficou 6 horas monitorando para ver se nada de errado com a máquina ou com o paciente aconteceria.
Especialista – Em 2017, o fisioterapeuta ferreirense, que desde a década de 1990 trabalha no InCor, teve sua tese de doutorado publicada no Jama – The Journal of the American Medical Association. Trata-se de uma das maiores e mais respeitadas revistas científicas de Medicina do mundo, publicada pela American Medical Association desde 1883.
Alcino foi o primeiro fisioterapeuta do Brasil e o segundo da Faculdade de Medicina da USP – onde defendeu sua tese – a conseguir tal feito em 100 anos de história da instituição.
A tese de Alcino se chamava “Estudo comparativo entre duas estratégias de ventilação mecânica, protetora e convencional, no pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca”. Ela foi defendida em meados de 2016, na Faculdade de Medicina da USP, o que rendeu ao fisioterapeuta o título de Doutor em Ciências. A orientadora foi a professora-doutora Filomena Regina Barbosa Gomes Galas, que também participou agora do estudo com o ventilador desenvolvido pela Poli.
Fonte: Redação Jornal do Porto